

Árvore dos Sonhos
Nesse momento, no final da oficina, a ideia geral era fazer um apanhado acerca das expectativas dos moradores com relação ao futuro da Comunidade. Nessa etapa da oficina em que se projeta o futuro, a tentativa é estimular os participantes a pensar fora dos condicionantes comuns, diagnosticando-se sonhos e lamentos de todos os partícipes do grupo foco, em processo coletivo. Essa dinâmica estimula a participação de todos os componentes do grupo no apontamento de problemas comuns que lhes afligem, também é levantada a contextualização histórico-geográfica e política dos mesmos, no reconhecimento do que há de comum entre eles, na percepção de suas causas, na visualização dos sonhos de futuro de cada um dos membros do grupo e nas sugestões de alternativas para a resolução coletiva dos problemas ali apontados. Tal metodologia tem inspiração paulofreiriana.
Os resultados vieram de encontro aos anseios por integração com a cidade e regularização fundiária. O que diz respeito ao Direito à Cidade também foi citado, com graus diferentes de politização.
O que se refletiu nas "folhas" da árvore são demandas concretas da ocupação referentes a urbanização que vão desde problemas típicos de ocupações urbanas recentes, como "asfalto'', ''esgoto'', ''luz elétrica'' formal, quanto o anseio pela resolução de problemas típicos das comunidades pobres de Belo Horizonte, como escolas e postos de saúde próximos. No que diz respeito ao pertencimento dos moradores, a árvore foi reveladora ao exprimir o desejo de permanência no território e de identificação com a comunidade. "Ficar na Dandara'', ''Ganhar Dandara'', ''Conquistar Dandara de vez'', ter a escritura da minha casa”, “morar com dignidade” foram frases e expressões escritas. Interessante notar que pessoas que não participaram da oficina também opinaram nesse momento, inclusive crianças. Novamente, desejos de acesso a equipamentos da cidade formal, como asfalto, foram citados dentre as expectativas. Vislumbrando a árvore pronta, as folhas dão conta de um desejo generalizado por melhores condições de vida e de permanência no território.
Por fim, foi citado também nessa dinâmica desejos como “viver em paz, sem medo do despejo”, “vitória de todos”, “que outras comunidades sejam beneficiadas”, o que reforça a ideia de reconhecimento já mencionado, como também aponta para uma alteridade e identidade com outras ocupações que vivem realidade similar.
História da Dandara
9 de abril de 2009: nasce a Ocupação Dandara. Nos primeiros dias eram 150 famílias que, não tendo condição de pagar os caros aluguéis em Belo Horizonte iniciaram o sonho de ter onde morar. Três dias depois, mesmo após forte repressão policial, apareceram muitas outras famílias em busca de moradia, e as 150 se transformaram em 1.300, que montaram suas barracas num pequeno pedaço do terreno.
A comunidade, que fica no bairro Céu Azul, de alta valorização imobiliária na região norte de Belo Horizonte, antes da ocupação era um terreno de 315.000m² abandonado há mais de quatro décadas, servindo para o consumo de drogas, ocorrência de estupros e desova de corpos. Como aqui se diz muito, sem cumprir com a sua função social.
Quem está aqui costuma dizer que a polícia ocupou o terreno junto com o povo, pois no início ela chegou a ficar acampada ao lado dos moradores para garantir que a ocupação não se expandisse para o restante do terreno.
Foi delimitado um pedaço do terreno em que as famílias poderiam permanecer, momento em que a polícia, com postura truculenta, não deixava qualquer material de construção entrar e os depósitos da região não entregavam aqui.
A comunidade resistiu aos primeiros meses e, após quatro meses de aperto e em péssimas condições de moradia, expandiu para o restante do terreno e se estruturou a partir de um projeto urbanístico. Hoje, a Dandara é composta por ruas largas, áreas de preservação ambiental e áreas coletivas. Todo mundo tem sua casa nos lotes de 128m², onde mantêm seus quintais e cultivam suas hortinhas. Mas quem se dizia dona do terreno não aceitou que agora havia gente dando um uso para ele e entrou na justiça pedindo a desocupação do terreno e, até hoje, os moradores vivem com a insegurança de não saber se poderão continuar em suas casas. Apesar dos problemas e inseguranças quem mora aqui não tem medo de luta. Sempre mobilizados, os moradores já organizaram cinco marchas até o centro de Belo Horizonte acompanhando julgamentos importantes, e realizaram acampamentos na Praça Sete e na Prefeitura. Dandara cresceu não só para dentro, como para fora e hoje conta com uma forte Rede de Apoio, envolvendo outras comunidades, movimentos sociais, instituições e cidadãos. Ainda hoje a segurança da moradia não é total, mas a comunidade permanece a lutar todos os dias para garantir o que lhe é de direito: uma casa para morar. E a luta continua até que a cidade seja de todos e todas.